Que atire a primeira pedra a pessoa que nunca quis, por um minuto, largar tudo e desfrutar a doce loucura da liberdade, porém, esbarra na convenção social. Assim, Nise da Silveira faz um pedido: “Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda”. E diz ainda: “Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas”.
Nise da Silveira foi uma médica psiquiátrica que revolucionou o tratamento mental no Brasil. Sua filosofia tem como objeto a liberdade de expressão e de ser o que está na essência, o que é inato e particular.
Desde a concepção da ideia, há 10 anos, inspirado nessa filosofia, o Centro de Convivência Arte de Ser, da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), trabalha com a livre expressão artística, que possibilita aos frequentadores do centro colocarem para fora os sentimentos mais íntimos.
Idealizador do projeto, Fabiano Carvalho ao ser lotado no Departamento de Ações e Planejamento Estratégico (Dape) da Sesacre, conseguiu a formalização e também transformar, o que agora é centro, em uma fonte de estudo para diversas áreas.
“Muitas áreas de estudo fizeram formação no Arte de Ser, quando ainda era apenas uma oficina. E, em 2015, eu vim para o Dape para formalizar o Arte de Ser em Centro de Convivência. A partir de 2015, ficamos na batalha para conseguir formalizar”, conta Fabiano.
O ponta pé inicial, segundo o coordenador e psicólogo do centro, Fabiano Carvalho, surgiu em 2008, como resultado de um projeto idealizado numa oficina ministrada por um admirador e facilitador de Nise.
“Desde 2018, é um centro de convivência oficializado. De 2015 até 2018, foi uma batalha para conseguirmos formalizar tudo. Hoje, ainda precisamos realizar alguns trâmites burocráticos, mas já conseguimos os decretos para funcionarmos como centro”, explicou o psicólogo.
Por questões de normatizações, os centros de convivência não recebem recursos federais, assim, o espaço é mantido por meio de doações e parcerias com órgãos e empresas privadas. O Arte de Ser também recebe o público da Ciranda Samaúma, uma cooperativa que trabalha com artesanato feito por pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II).
As atividades representam o que os profissionais tanto valorizam: a humanização no tratamento de pessoas com distúrbios mentais. Munem-se de instrumentos que instiguem a leitura, dança, contação de histórias e, o resultado final? É a linda, leve e livre expressão artística.
O Arte de Ser tem como foco principal o atendimento dos pacientes da Rede de Atenção Psicossocial, mas as portas são abertas para todo aquele que quer ser o “artesão da beleza de sua própria vida”, como filosofava Michel Foucault.
“O que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com outra. O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceito”, Nise da Silveira.